sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Eu já tive tantos amores, correspondidos ou não, que certamente poderia escrever um livro, uma autobiografia, só com alguns dos meus romances e com o sonho de outros tantos.

Tive o primeiro amor. Aquele, quando não se tem idade e nem maturidade para amar ninguém, mas se ama mesmo assim e se fazem as mais lindas juras de amor e os mais belos planos, com a melhor das intenções, é claro. É uma sensação diferente de tudo que a gente já sentiu até ali. Parece que a gente flutua e que o mundo gira em volta... Os olhos brilham só de lembrar e o sorriso, bobo e incontido, fica estampado no nosso rosto. O tempo todo. A família é perfeita, os amigos são perfeitos, o cheiro, o beijo, a conversa. Tudo é tão maravilhoso e inesperado, que a vida passa a ter uma cor que até então não tinha, embora sempre tenha sido boa e feliz.

A gente tem a certeza de que vai durar pra sempre.

Aí acaba.

Claro.

E a gente sofre.

Chora pra dormir, chora pra acordar, chora, chora, chora e, então, para de chorar. Curte uma fase meio louca, uma fase meio deprê, uma fase meio cética e volta a se apaixonar.

Dessa vez, mais forte.

Aí, vem o segundo amor. Com os pés um pouquinho mais perto do chão, você abre o seu coração novamente. Não é tudo mais tão colorido, mas ainda assim é bom. A gente tem aquele medinho de que acabe como o primeiro, tenta se entregar menos, fica se poupando mais, é um pouquinho menos feliz, mas sabe que, se acabar, vai ser um pouquinho menos triste também. Salvo as exceções que sempre existem, o segundo amor é morno. É colocar o pé pra sentir a água, antes de pular na piscina. É olhar o jogo de fora, só observando, sem torcer e nem vibrar.

E aí... acaba. Mais uma vez.

A gente sofre, porque o coração, lá no fundo, sempre tem a esperança do amor, mesmo que não seja o amor devastador da primeira vez.

E a dor passa. E a gente cresce mais um pouco.

O terceiro amor é mais corajoso. A lembrança da dor já está mais distante e a gente tem certeza de que é forte para aguentar firme, caso algo saia errado. Já passamos algum tempo curtindo a vida de solteiro e dá aquela vontadezinha de alguém para abraçar num domingo à tarde de filme repetido na TV. O terceiro amor é mais maduro, mais quente, mais interessante, mais humano. Flutua-se menos. Vive-se mais. A gente divide os problemas, as contas, a correria da vida adulta, os finais de semana, entre trabalho e faculdade, os sonhos. A gente planeja, a gente acredita, a gente tenta. A gente vê qualidades que não via nos outros, a gente vê maturidade que não via nos outros e se encanta com o que eu chamaria de algo mais próximo da realidade.

Mas, às vezes, o terceiro amor também acaba.

Agora, o sofrimento dura só alguns dias, quem sabe, semanas, e voltamos ao normal.

Voltamos à correria, aos compromissos, paramos e pensamos como a vida de gente grande tira um pouco a magia das coisas e acabamos por nos conformar com o fato de que quanto menos expectativas, menos decepções e até nos sentimos felizes pela leveza com que encaramos um outro fim.

A gente vai se preocupando com outras coisas, vai se ocupando com outras tarefas e as lágrimas e desilusões vão virando uma espécie de sedimento acumulado em nossa história, formando algum tipo de alicerce para nos manter de pé.

Se a magia diminui, a serenidade aumenta e não há mais aquele medo do início. Isso deve chamar maturidade. Experiência. Nada soa tão confortante e libertador. Libertador porque, agora, até se pode sonhar e flutuar de novo, com a certeza de que dor de amor não nos derruba mais.

Agora, o coração já foi despedaçado e reconstruído, como se tivesse sido preparado, como a terra, para receber novas sementes e fazer nascer as mais belas flores. Agora, o amor que a gente quer não é mais cor de rosa ou com luzinhas que piscam. Agora, o amor é de todas as cores, mais complexo, mais vibrante, mais real.

E eis que chega o quarto amor.

Amor de rede na varanda de frente pro mar. Amor de vento que bate no rosto, que planeja a sala de casa em cores pastéis, com tapete e cortina, sofá cor de creme, casinha aconchegante, cappuccino num dia frio depois do trabalho.

A felicidade é sutil.

O amor da loucura passou. Agora é amor de parceria, de amizade, de sexo sem medo de gravidez indesejada, de sexo sem medo de julgamentos, de sexo pra valer. 
Agora é amor de férias juntos, de contas divididas, de sonho do apartamento. É amor de homem e mulher, de família sendo construída, de segurança e tranquilidade.

E se acabar? Acabou.

Não tem prazo de validade, mas, enquanto durar vai durar pra sempre. 

Vai ser a redenção do primeiro, segundo e do terceiro amor e dos infinitos amores que existiram entre cada um deles.

O quarto amor é a esperança, é a perseverança, é a fé. É a certeza de que todo o aprendizado valeu a pena. É a recompensa. É o amor que só é dado a quem é feliz o bastante para merecê-lo. É o amor leve, é o amor amigo.

Quando cheguei ao quarto amor, cheguei um pouco parecida com todos os amores que eu tive. Cheguei com todas as palavras ditas e ouvidas, com toda a bagagem, que, por incrível que pareça, não pesa. Cheguei fazendo menos barulho. 

Cheguei restaurada e preparada. 

Cheguei com o coração ainda flutuando e com os pés firmes no chão.







quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Nós, mulheres, estamos pouco exigentes - Baseado em tudo que já vi e vivi.

Estamos pouco exigentes em relação aos homens. E eu não falo de beleza, dinheiro, carros ou sucesso profissional. Eu falo de caráter, de cuidado, de carinho, de amor.

Vejo mulheres interessantíssimas, independentes e lindas dando todo o seu amor para um cara que, simplesmente, não merece nada daquilo. Mulheres querendo proporcionar toda uma vida de felicidade, construir uma família, dedicar sua existência a uns caras que não sabem nem o que isso significa.

Por que nos apegamos por tão pouco? Por que aceitamos um tipo de amor barato, que, nem de longe, corresponde às nossas expectativas? Por que nos entregamos de corpo e alma a amores mais ou menos - bem mais ou menos? Por que enxergamos que não vale a pena e, mesmo assim, ignoramos todos os sinais de que aquilo não vai prestar?

Vejo muitas mulheres (e, em um passado não tão distante, já fiz o mesmo) em relações mornas, preocupantes, pouco saudáveis, vivendo cheias de grilos e desconfianças, aguentando um namoro a todo custo, mesmo quando nem estão felizes, apenas para manter aquele relacionamento.

Na maioria das vezes, elas nem dependem deles economicamente, mas aceitam, por um motivo ainda oculto, pra mim. É tão claro, para quem está de fora, o quanto esse tipo de relação é prejudicial, mas, acredite, para quem está dentro dela, nem sempre é tão claro assim.

E eu nem falo dos homens ogros, propriamente ditos, que batem, espancam, agridem verbalmente, violentam. Não. Eu estou falando daqueles que são mais sutis, que estão com você, mas não estão 100%; que traem, que vivem cheios de casos, que deixam pistas, cheios de histórias mal explicadas, de segredos. Homens que se afastam do nada, que não se importam, que te excluem, que não dividem e nem têm interesse real na sua vida.

E a pergunta mais óbvia e difícil de ser respondida é: Por que gostamos e nos apegamos a esse tipos de caras? Claro, no início, em geral, fazem um esforço tremendo para nos conquistarem. Fazem tudo para provar que a nossa intuição e seu histórico estão enganados e aí, com a mesma rapidez com que se apaixonam, eles nos esquecem... ali, diante de seus olhos; deixam de nos enxergar, de nos ouvir, de nos amar.

A questão é que, no fundo, eles não estão fazendo nada além de serem eles mesmos, com o detalhe de que, em nossa mente maluca e teimosa, esse verdadeiro lado estava oculto e sendo carinhosamente ignorado.

A verdade é que imaginamos, desde muito cedo, (desde quando deveríamos estar fazendo planos com os nossos amigos, sobre as viagens que queremos fazer, sobre os lugares que queremos conhecer) o cara perfeito, cheio de virtudes, romantismo, companheirismo e amizade, o cara gentil, com sonhos parecidos com os nossos, que nos fará acreditar ainda mais no amor. Até aí, tudo bem. 

O problema é que, quando aparece o primeiro idiota (de muitos que, fatalmente, irão aparecer), o que a gente faz? Cola o cara-perfeito-imaginário em cima da cabeça do idiota e fica vivendo um tipo de conto de fadas, em um universo paralelo, como se ele tivesse surgido do nada em nossas vidas, diretamente dos nossos sonhos. 

Então, começamos a sonhar em casar - com alguém que nunca pensou nisso (mesmo que diga e finja fazer planos); começamos a pensar em ter filhos e construir uma família- com uma pessoa que nem considera essa possibilidade (pelo menos não com você); começa a atribuir a ele virtudes que ele jamais possuiu, como ser companheiro, generoso, carinhoso, baseada em atitudes vazias que, em momentos inesperados, tendem a se tornarem algo admirável.

Depois de um tempo, nem esforço a pessoa faz mais. E a gente continua lá. Não muito feliz, mas continua. E é isso que eu não entendo.

Quando a gente está com alguém bacana de verdade não consegue compreender como aguentou o mais ou menos por tanto tempo.
Será que foi o modo como o mundo cria as mulheres que nos fazer aceitar tão pouco? Será que, por algum motivo implícito, não sabemos dizer tchau quando percebemos que não vale a pena? Ok. Existem exceções. Mulheres fortes, determinadas, que conseguem lidar muito bem com idiotas, muitas vezes, por já terem conhecido muitos. 

A minha vontade era ajudar todas as outras que ainda não são tão fortes assim. Gritar no ouvido delas: Você merece mais. Muito mais. Sai fora dessa cilada. Mas acho que quem não nasceu forte assim só aprende com a experiência. Experiência que nos permite avaliar melhor, escolher mais, estar com quem queremos estar, sem necessidade de companhia, sem aceitar por falta de opção ou critério. 

Não devemos oferecer uma vida, felicidade, uma família e os nossos sonhos a qualquer pessoa, a pessoas que não sabem dar valor a isso, que não conhecem o significado disso.

Antes, eu acreditava que não era certo se deitar com alguém sem antes conhecer e saber quais eram as intenções daquela pessoa. Acreditava que não era certo entregar o seu corpo a alguém que não assumisse um compromisso com você. Hoje, tenho plena convicção de que não se deve dar amor e oferecer tanto a alguém que, sabidamente, não merece tanto; que, claramente, não oferece o mesmo em troca.

Para algumas pessoas, somente o corpo. Nada mais. 






Quando a gente se apaixona, a gente quer mostrar o nosso lado mais feliz, otimista, gentil e agradável para a outra pessoa. Não pra enganá-la ou fazer qualquer tipo de propaganda enganosa, mas para oferecer o nosso melhor, na esperança de que ela ainda nos ame e nos aceite quando precisar lidar com o nosso pior.