domingo, 3 de outubro de 2010

A música está em mim


Meu avô era músico e meu pai recebeu como herança uma belíssima voz. Quando eu nasci, ele tirou meu nome de uma canção que ele adora e me criou aos compassos de seu violão. Ainda me lembro de dormir nos braços da minha mãe, nos bares em que meu pai cantava. Eu cresci ouvindo as mais lindas canções, sem nem me dar conta de que Vinícius, Chico, Tom e outros tantos já estavam ali, como se esperassem o desabrochar da minha paixão por aquelas composições. A minha voz, modesta por sinal, parecia se encaixar na doce melodia de toda a bossa, que começava a me encantar, a me fazer perceber que era a isso que eu pertencia e era exatamente isso o que me movia. Cantar virou parte de mim, indissociável da alegria e da tristeza. Sempre presente. Não que não incomodasse vez ou outra quem ouvisse todo o tempo, mas estava em mim. E as notas insistiam em sair da minha boca, de forma tão involuntária, como quem não percebe quando canta, como quem não percebe quando respira. E a cada descoberta de uma nova canção, um resumo das minhas emoções, um desejo de que a vida tivesse trilha sonora. Alguns versos sempre me fizeram pensar sobre o que o poeta sentia ao escrevê-los, que inspiração o fazia compor algo tão intenso, a ponto de expressar tão bem os nossos próprios sentimentos. A melodia que se encaixa na poesia... O som, o silêncio... A minha alma canta! E se alimenta das canções.

Imperfeição

Eu tenho uma estranha mania de pensar sobre a vida! E sempre me pego tentando entender ou consertar algo, como se ela precisasse seguir algum roteiro, baseado em coisas que eu julgo corretas. O mais irônico, entretanto, é que vira e mexe ela segue seu próprio rumo, como uma correnteza que não se deixa desviar por obstáculos mais fracos do que ela. É como uma peça, que embora tenha sido ensaiada para ser perfeitamente encenada, faz suas próprias leis quando sobe ao palco. Às vezes, o resultado é realmente espetacular. Outras vezes, nem tanto. É intrigante como ela vai construindo sua própria história e, vez ou outra, me deixa como uma mera expectadora, observando de longe o seu desenrolar. E, então, eu me cobro tanto! Exijo tanto que eu faça as regras e que tudo saia exatamente como o planejado, como o idealizado. E me desaponto com os meus erros, como se fossem definitivos. E tenho vontade de apagar, como versos imperfeitos, qualquer acontecimento que tenha fugido ao meu controle, como se pudesse reescrevê-lo de uma maneira melhor. A minha natureza perfeccionista encosta-me na parede, minha consciência, que tende impiedosamente a ser pesada, me chama sem cerimônia e eu teimo em querer a perfeição.

sábado, 2 de outubro de 2010

Poesia e Canção

Eu viveria de música e poesia. Faria a trilha sonora da minha vida em ritmo de Bossa, cantando Vinícius. Dançaria samba de roda como se ninguém estivesse me olhando e filosofaria sobre a vida. Aos compassos de um violão, mandaria embora a saudade e, se fosse preciso, começaria tudo outra vez. Acreditaria ainda mais nos sonhos e não deixaria de gostar pra não sofrer, não sorrir e não chorar. Deixaria vigorar o que fosse pra ser, e dividiria a felicidade com quem soubesse fazer seu caminho, seguindo o rastro pólen de uma bela flor. Teria esperança de que gente grande voltasse a ser criança... De que gente triste também entrasse na dança... De que gente longe vivesse na lembrança. Faria pelo menos um samba, mesmo que tivesse uma nota só...e levaria a vida, faria a vida valer. E seria lindo, limpo, raro... Como todos os românticos. E teria certeza de que é sempre melhor ser alegre do que ser triste.Teria algo além da beleza. Qualquer coisa que chorasse, que sentisse saudade. Seria poeta ... Transbordaria em som...