segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Feminismo: Você está entendendo isso errado

Não. Não significa não gostar de homens, maquiagem, roupas, sapatos, não querer ter filhos, não gostar de serviços domésticos ou não gostar de "coisas de mulher", como diriam alguns. Significa muito mais do que isso e, de maneira bem simples, significa poder escolher gostar dessas coisas ou não. Significa poder gostar dessas e de muitas outras coisas também, inclusive de "coisas de homem", como diriam outros.

As pessoas têm medo da palavra feminismo. "Eu não sou feminista, sou feminina", já ouvi algumas vezes. Eu penso na liberdade de expressão, de ideias, crenças, culturas e, ainda assim, não consigo entender uma mulher não ser feminista. Como alguém pode não querer ser livre, ter os mesmos direitos que qualquer ser humano? Como alguém pode não querer poder escolher o que fazer da sua vida, com o que trabalhar, com quem dormir, o que dizer ou com o que sonhar, sem ser julgada por isso? Como alguém pode não querer ter a liberdade de escolher?

Vivemos em um mundo no qual as mulheres precisam estar sempre depiladas, cheirosas, bem arrumadas. Elas precisam ser lindas, discretas, calmas, doces, mesmo passando por tudo que passam; elas não podem namorar quantos quiserem, nem dormir com quantos quiserem... Elas precisam ser mulheres “pra casar”; precisam querer ter filhos, cuidar da casa, do marido e, mesmo que trabalhem fora de casa, têm que ter tempo para desempenhar todas as outras funções que lhes foram dadas desde o início e ao longo dos tempos, sem ao menos serem consultadas em relação a isso.

Muitas pessoas vão dizer: “Isso não existe mais”. Será que não? Na última semana, tenho visto notícias de uma pessoa sendo massacrada por ter feito sexo e se deixado filmar. E não tenho visto tantas pessoas assim questionarem a falta de caráter da outra pessoa que divulgou o vídeo. Preciso dizer a que sexo pertence cada uma das pessoas envolvidas?

Feministas são chatas, né? Comunistas também. As pessoas não gostam de nada muito “radical”. Eu diria ainda que a maioria delas prefere que tudo continue como sempre foi. Do jeito que está. Pra que mudar?

É muito radical querer ter liberdade de dormir com quem você quiser; é radical querer trabalhar com o que você quiser, querer se casar ou não, querer se depilar ou não. É radical demais não querer ser espancada, estuprada, exposta... É realmente radical querer ser tratada como gente, querer ser respeitada simplesmente por ser gente. Mas não... Mulheres têm que se dar o respeito para serem respeitadas. As únicas coisas boas que uma mulher pode ter são sua virgindade e beleza. Se ela for feia e livre pra ficar com quem ela quiser, ela não presta. Não é pra casar. Não se encaixa.

Já viu alguém questionar se um homem serve para casar depois de já ter se deitado com metade da cidade? Já viu algum homem ser chamado de rodado? Já viu homens seminus em comerciais de cerveja sendo comparados a um produto? Já viu homens sendo “crucificados” pelas roupas que escolhem?

Quantos homens são mortos a cada ano por namoradas que não aceitam o término do namoro? Quantos maridos são espancados por suas esposas? Quantos maridos precisam implorar para que suas esposas os ajudem com os serviços da casa, como se a casa fosse só deles e a obrigação de arrumar também?

Quantos homens são estuprados a cada ano, quantos homens são expulsos de casa por seus pais por terem engravidado uma menina? Quantos homens incompetentes que chegam ao poder são acusados de terem dormido com a sua chefe?

Quantas vezes um homem que trai a sua esposa é chamado de vadio ou prostituto? Quantas vezes menciona-se a virgindade de um homem para dizer que ele é merecedor de admiração por ser “diferente dos outros”?

Qual a lei que define que o homem é criminoso por pedir ou obrigar sua companheira a realizar um aborto? Qual a lei que criminaliza o homem por abandonar sua companheira grávida? Quantos homens já foram expostos na internet e chamados de vadios por fazerem sexo e se filmarem?

Se você é uma pessoa conservadora e acredita em determinadas coisas, tudo bem. É um direito seu. Mas, por favor, não me diga que essas diferenças não existem. Não me diga que o feminismo é inútil ou radical, porque a luta por direitos está só começando. Pare de colocar diferenças de valor e direito entre homens e mulheres. Pare de educar seus filhos assim.

Pare de rotular as mulheres: santinha, vadia, piriguete. Permita que elas sejam livres. Essa sociedade patriarcal e preconceituosa está fadada ao fracasso e vemos isso todos os dias.

Vamos nos preocupar mais com as vidas do que com suas identidades, sexualidade, status social, cor, hierarquia, peso, profissão, situação econômica, cultural. Vamos esquecer isso e focar os seres humanos, suas vidas, sua felicidade. Sejamos menos moralistas e mais humanos.

Esse texto ajuda a entender melhor do que se trata: http://papodehomem.com.br/feminismo/


Eu também já acreditei que ser feminista era algo radical. Talvez seja mesmo, levando-se em conta a sociedade em que vivemos. Mas descobri que gosto de ser radical. Gosto de ser feminista. Não há como não ser.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Amor...

Se eu tentasse definir, hoje, o que é "amor", certamente, essa "definição" chegaria muito mais perto de tudo o que a gente tem do que de qualquer outra coisa que eu já tenha sentido antes por alguém.

O amor não tem muito a ver com assistir a filmes e ficar sonhando ou se emocionando com trilhas sonoras. O amor tem mais a ver com convivência, com dia a dia, com sutilezas imperceptíveis em curto prazo. 

A emoção do início é maravilhosa, mas não é duradoura. São alguns meses de friozinho na barriga, ansiedade por uma ligação ou um convite, por mensagens e declarações.

Depois de toda essa euforia, o que fica, naquele domingo à tarde de filmes repetidos na TV a cabo, é o que, para mim, aproxima-se mais de "amor". 

Porque amar, talvez, seja querer voltar pra casa depois de um dia de trabalho, sabendo que tudo vai estar lá, de novo, do jeitinho que você deixou. Talvez seja planejar aquela viagem de férias, a decoração aconchegante da sala ou qualquer outro detalhe de uma vida cheia de dias iguais, maravilhosos e insubstituíveis dias iguais, ao lado do outro. 

Eu não sou uma amante da rotina, confesso, mas admito que é a rotina que nos mostra onde realmente queremos estar, com quem queremos dormir e acordar pelo maior tempo que for possível. É a rotina que nos mostra onde e com quem nos sentimos em casa.

Felicidade de verdade deve ter algo a ver com amar nossos dias comuns, amar o "durante" e não só os finais de semana... não só o diferente ou o que fuja ao cotidiano.

Uma vez li algo assim: "Sempre quis alguém que me tirasse do chão, que me tirasse o ar. Hoje quero alguém que divida o chão comigo, que me traga fôlego"(FM).

 E acho que é bem assim! Melhor do que saber o amor, inquietante, é senti-lo, calmo e acalentador.

O amor vai se construindo também com amizade,  eu acho.. desentendimentos, rotina. Um vai ajudando o outro, vai se acostumando com o jeito do outro, com o perfume, com o sorriso.. um vai confiando no outro, apoiando-se, descobrindo-se e, assim, sem querer ou perceber, esse amor vai  se edificando.

Eu nunca soube como era o "depois". Depois que o filme acaba, depois que eles ficam finalmente juntos, depois que passa a euforia.. Nunca soube como é sentir que alguém está ali por uma única razão, e pela mesma razão que você... porque quer estar.

Agora, talvez, haja algo diferente... Nada de fogos de artifício, encontros inesperados, ansiedades, dúvidas e espera.. Agora, existe dia a dia, lado a lado, mãos dadas e pés... no mesmo passo, compasso e direção.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Um brinde à experiência!

É realmente incrível como as coisas mudam com o passar do tempo.. os nossos interesses, as nossas prioridades.. O que era importante deixa de ser, num piscar de olhos.. e o que nem existia passa a ser essencial. Bons amigos se afastam, maus "amigos" também.. os lugares são outros, outras pessoas, outros sonhos.. A gente já não pensa mais como antes e, às vezes, até ri de si mesma por tantas bobagens passadas, feitas e pensadas.. Certezas que desmancham no ar, novas possibilidades, uma vida inteira de aprendizados e uma vida inteira pela frente. Hoje, olhando a estrada pela janela do ônibus e o sol se escondendo no horizonte, deixando o céu meio laranja, comecei a pensar.. Quanta coisa boa nos traz a experiência! E lembrando das pessoas que sempre querem os "18" de volta, pensei.. Não troco os meus 27 por nada! E que venham os próximos 27.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Você é incoerente. Todos nós somos.


Eu sou contra o aborto. Mas se você é contra leis que legalizem o aborto, você precisa ter uma justificativa que não seja apenas baseada no que você acredita. Porque as leis não são feitas só pra você, se é que você me entende. Prezar uma vidinha que está se formando é louvável, mas desprezar outra vida, a vida da mulher, a vida da mãe, te faz parecer incoerente. Então você defende a vida que está se formando, mas condena e ignora a vida de quem gerou aquela vida? Você é contra leis que legalizem o aborto, mas é a favor da punição do menor infrator? Você quer salvar a vida que está se formando e detonar a vida de quem já nasceu com uma vida difícil o suficiente? Tipo.. antes de nascer, a sua vida vale muito. Depois que nasce, cresce.. aí o problema é seu.. o estado que dê jeito. Quer jogar o menor infrator na cadeia e esperar que isso melhore o problema da violência? Você quer punir as vítimas de um problema social, contribuindo para que elas se tornem pessoas ainda piores. Ou você realmente acredita que a cadeia "recicla" o caráter das pessoas? Jogar uma criança na cadeia vai fazer ele virar um adulto milhares de vezes pior. Ta aí um exemplo de medida em curto prazo que não resolve o problema, ao contrário das bolsas, cotas e programas sociais. Ah é.. você é contra. Você abomina o aborto, mas é a favor da pena de morte? Incoerência. Você diz que a mulher é o sexo frágil, mas espanca, ofende, maltrata, deixa pra ela o serviço pesado da casa, violenta.. Ou você não sabe a definição de frágil, ou você é incoerente, ou os dois. Você não gosta de homossexuais, diz que eles destroem a família, mas o exemplo que você dá ao seu filho é de intolerância, de discriminação, de preconceito. Que família você pensa que está formando. Você julga as mulheres, diz que elas são "fáceis", "piriguetes".. Se diz "moça de família", mas desrespeita os seus pais, não tem paciência com os seus irmãos, maltrata os seus avós. O que você entende por família? Você vive na igreja, acredita estar mais perto de Deus do que qualquer pessoa, mas se entrar um bêbado ou um morador de rua na igreja, você nem olha e reza pra alguém tirá-lo rápido de lá.  Você sempre fala em religião, mas no caminho entre a casa e a igreja você não vê a miséria, a desigualdade, a opressão. Você não dá dinheiro pra ninguém na rua, porque são vagabundos querendo comprar drogas, mas você vende o seu voto. Você expulsa a sua filha adolescente de casa se ela aparece grávida, mas se seu filho transar com milhares de garotas, tudo bem. Ele pode continuar em casa numa boa. Você maltrata e humilha o faxineiro da empresa, mas é super educado com o diretor. O que é isso? Educação seletiva? Todo mundo diz que os valores estão invertidos com essa modernidade. Pra mim, estão começando a chegar no lugar. O problema não é inversão de valores, o problema é a incoerência. 

quinta-feira, 9 de maio de 2013

O conhecimento adquirido é algo irreversível. Quando os olhos se abrem e você passa a enxergar mais longe, é impossível voltar ao pensamento contido, limitado. Por isso, não tente obrigar os outros a pensarem como você ou a acreditarem no que você acredita. Existem determinadas coisas que só algumas pessoas veem e, para elas, aquilo faz todo o sentido. Assim como você tem certeza do que vê e crê, o mesmo acontece com todas as outras pessoas no mundo. E o que vemos e cremos nem nós mesmos podemos explicar. Pode mudar ao longo do tempo, pode estar impregnado em tudo o que somos, pode ser determinado pela nossa educação, pela nossa cultura.   Não exija que os outros enxerguem e aceitem coisas que não fazem para eles o mesmo sentido que faz para você. Mas quando sentir que pode ampliar o pensamento, questionar o que está determinado, pensar e acreditar em coisas novas, não hesite. A experiência é, sempre, de alguma forma, enriquecedora. E o conhecimento, libertador.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Aos amigos que eu não fiz


Hoje, eu teria feito mais amigos. Teria gostado mais facilmente das pessoas, sido mais generosa com características que eu julgava serem defeitos. Eu teria os amado mais antes de julgá-los, teria os compreendido mais antes de ter uma opinião superficial sobre eles. Eu ampliaria as minhas amizades, sem qualquer “pré-conceito” sobre as pessoas; teria somado mais em vez de simplesmente tê-los colocado no círculo de colegas ou conhecidos.

Tantas pessoas passam por nós e, às vezes, perdemos a oportunidade de trazê-las para a nossa vida de maneira mais efetiva.  Analisamos de qualquer maneira o seu comportamento e “descartamos” a chance de conhecê-las melhor.

Às vezes, sinto saudade da oportunidade que tive de cativar algumas pessoas, de aprender com elas. Deixei que elas passassem por mim e vissem somente a superfície e assim o fiz com tudo o que elas poderiam me ensinar.

Eu queria ser amiga dos amigos que eu não fiz. Queria tê-los como amigos, mesmo que distantes fisicamente. Queria ter sorrido muito mais ao lado deles, ter compartilhado experiências, construído histórias, queria tê-los conhecido de verdade.

Algo me diz, talvez essa saudade do que não houve, que essa amizade, que também não aconteceu, teria valido a pena!

terça-feira, 16 de abril de 2013

Dois ouvidos. Uma boca.

Quanto mais experiência eu tenho, mais calada eu fico. Quanto mais eu compreendo as coisas, maior é a minha
percepção de que na verdade eu não compreendo nada e é mais sábio não dizer coisa alguma. À medida que aprendo, vou ouvindo mais e falando menos, bem menos; tal qual uma barulhenta carroça vazia vindo em uma esburacada estrada de chão, que vai ficando silenciosa à medida que lhe aumentam a carga.

O que vamos dizer aos nossos filhos?


Com toda essa repercussão das declarações atuais, finalmente, estamos discutindo questões tão importantes, ainda que de maneira sutil. Nessa semana, li algo do tipo "o que vamos dizer aos nossos filhos?" Um comentário ligado à dúvida de como iríamos explicar aos nossos filhos as relações homossexuais. E eu pensei.. Vou dizer aos meus filhos: no mundo há uma diversidade enorme de pessoas (diversidade, o que NÃO significa "diferença", na concepção da palavra relacionada à existência de um maior e um menor ou de um melhor e um pior). 

Existem homens que gostam de homens, homens que gostam de mulheres, mulheres que gostam de homens, mulheres que gostam de mulheres, existem também pessoas brancas, pessoas negras, italianos, japoneses, pessoas obesas, pessoas magras, pessoas que não sabem ler, pessoas que se formaram em uma universidade, pessoas pobres, pessoas ricas, pessoas que não podem andar, pessoas que gostam de certo tipo de música, pessoas que gostam de certo tipo de comida, pessoas que seguem uma determinada religião, pessoas que não seguem nenhuma, etc. O que você precisa realmente saber é que todas essas são Pessoas e devemos respeitá-las. Assim como aos animais. 

Procure se aproximar ou não das pessoas, utilizando outros critérios que não sejam apenas superficiais. Procure valorizar características como bondade, solidariedade, honestidade, bom humor, sinceridade, confiabilidade, amizade. Tente reconhecer os amigos pelo que não se pode ver apenas pelo que dizem dele ou pelo que ele aparenta ser aos olhos dos outros. Veja beleza na diversidade. Seja justo. Aprenda com os seus erros, amadureça, busque sempre ser uma pessoa melhor, saiba amar a si mesmo como você é, sem precisar se adequar a qualquer padrão. Respeite os outros e só aceite ser respeitado.

 E quando escolher um amigo, um representante, um namorado, não o escolha pelos seus gostos, pelas pessoas com quem ele se deita, pelo modo como ele se veste, pelo seu sexo ou pela cor dos seus cabelos. Saiba distinguir o que é fato e o que é valor. Escolha-o pelo modo como suas palavras e atitudes afetam a felicidade dos outros e a dele próprio, pelo modo como ele vê o outro, pelo modo como se coloca no lugar do outro, pelo modo como ele escolhe as pessoas que estarão a sua volta, pelo modo como ele tenta acertar depois de ter cometido um erro.