Eu já tive tantos
amores, correspondidos ou não, que certamente poderia escrever um livro, uma
autobiografia, só com alguns dos meus romances e com o sonho de outros tantos.
Tive o primeiro amor.
Aquele, quando não se tem idade e nem maturidade para amar ninguém, mas se ama
mesmo assim e se fazem as mais lindas juras de amor e os mais belos planos, com
a melhor das intenções, é claro. É uma sensação diferente de tudo que a gente
já sentiu até ali. Parece que a gente flutua e que o mundo gira em volta... Os
olhos brilham só de lembrar e o sorriso, bobo e incontido, fica estampado no
nosso rosto. O tempo todo. A família é perfeita, os amigos são perfeitos, o
cheiro, o beijo, a conversa. Tudo é tão maravilhoso e inesperado, que a vida
passa a ter uma cor que até então não tinha, embora sempre tenha sido boa e
feliz.
A gente tem a certeza de que vai durar pra
sempre.
Aí acaba.
Claro.
E a gente sofre.
Chora pra dormir, chora
pra acordar, chora, chora, chora e, então, para de chorar. Curte uma fase meio
louca, uma fase meio deprê, uma fase meio cética e volta a se apaixonar.
Dessa vez, mais forte.
Aí, vem o segundo amor.
Com os pés um pouquinho mais perto do chão, você abre o seu coração novamente.
Não é tudo mais tão colorido, mas ainda assim é bom. A gente tem aquele medinho
de que acabe como o primeiro, tenta se entregar menos, fica se poupando mais, é
um pouquinho menos feliz, mas sabe que, se acabar, vai ser um pouquinho menos
triste também. Salvo as exceções que sempre existem, o segundo amor é morno. É
colocar o pé pra sentir a água, antes de pular na piscina. É olhar o jogo de
fora, só observando, sem torcer e nem vibrar.
E aí... acaba. Mais uma
vez.
A gente sofre, porque o
coração, lá no fundo, sempre tem a esperança do amor, mesmo que não seja o amor
devastador da primeira vez.
E a dor passa. E a
gente cresce mais um pouco.
O terceiro amor é mais
corajoso. A lembrança da dor já está mais distante e a gente tem certeza de que
é forte para aguentar firme, caso algo saia errado. Já passamos algum tempo
curtindo a vida de solteiro e dá aquela vontadezinha de alguém para abraçar num
domingo à tarde de filme repetido na TV. O terceiro amor é mais maduro, mais
quente, mais interessante, mais humano. Flutua-se menos. Vive-se mais. A gente
divide os problemas, as contas, a correria da vida adulta, os finais de semana,
entre trabalho e faculdade, os sonhos. A gente planeja, a gente acredita, a
gente tenta. A gente vê qualidades que não via nos outros, a gente vê
maturidade que não via nos outros e se encanta com o que eu chamaria de algo
mais próximo da realidade.
Mas, às vezes, o
terceiro amor também acaba.
Agora, o sofrimento
dura só alguns dias, quem sabe, semanas, e voltamos ao normal.
Voltamos à correria, aos compromissos, paramos e pensamos como a vida de gente grande tira um pouco a magia das coisas e acabamos por nos conformar com o fato de que quanto menos expectativas, menos decepções e até nos sentimos felizes pela leveza com que encaramos um outro fim.
Voltamos à correria, aos compromissos, paramos e pensamos como a vida de gente grande tira um pouco a magia das coisas e acabamos por nos conformar com o fato de que quanto menos expectativas, menos decepções e até nos sentimos felizes pela leveza com que encaramos um outro fim.
A gente vai se preocupando
com outras coisas, vai se ocupando com outras tarefas e as lágrimas e
desilusões vão virando uma espécie de sedimento acumulado em nossa história,
formando algum tipo de alicerce para nos manter de pé.
Se a magia diminui, a
serenidade aumenta e não há mais aquele medo do início. Isso deve chamar
maturidade. Experiência. Nada soa tão confortante e libertador. Libertador
porque, agora, até se pode sonhar e flutuar de novo, com a certeza de que dor
de amor não nos derruba mais.
Agora, o coração já foi
despedaçado e reconstruído, como se tivesse sido preparado, como a terra, para
receber novas sementes e fazer nascer as mais belas flores. Agora, o amor que a
gente quer não é mais cor de rosa ou com luzinhas que piscam. Agora, o amor é
de todas as cores, mais complexo, mais vibrante, mais real.
E eis que chega o
quarto amor.
Amor de rede na varanda
de frente pro mar. Amor de vento que bate no rosto, que planeja a sala de casa
em cores pastéis, com tapete e cortina, sofá cor de creme, casinha
aconchegante, cappuccino num dia frio depois do trabalho.
A felicidade é sutil.
O amor da loucura
passou. Agora é amor de parceria, de amizade, de sexo sem medo de gravidez
indesejada, de sexo sem medo de julgamentos, de sexo pra valer.
Agora é amor de
férias juntos, de contas divididas, de sonho do apartamento. É amor de homem e
mulher, de família sendo construída, de segurança e tranquilidade.
E se acabar? Acabou.
Não tem prazo de
validade, mas, enquanto durar vai durar pra sempre.
Vai ser a redenção do
primeiro, segundo e do terceiro amor e dos infinitos amores que existiram entre
cada um deles.
O quarto amor é a
esperança, é a perseverança, é a fé. É a certeza de que todo o aprendizado
valeu a pena. É a recompensa. É o amor que só é dado a quem é feliz o bastante
para merecê-lo. É o amor leve, é o amor amigo.
Quando cheguei ao
quarto amor, cheguei um pouco parecida com todos os amores que eu tive.
Cheguei com todas as palavras ditas e ouvidas, com toda a bagagem, que, por incrível que
pareça, não pesa. Cheguei fazendo menos barulho.
Cheguei restaurada e preparada.
Cheguei com o coração ainda
flutuando e com os pés firmes no chão.