sexta-feira, 1 de abril de 2011

Preconceito e outras tolices – Inspirado num certo deputado

A entrevista absurda, bem como tudo o que vem sendo dito por um certo deputado me fez pensar no quanto às vezes invertemos os nossos valores. E não falo somente da questão da ditadura militar, do racismo e preconceito, que fazem doer os nossos ouvidos. Falo de todos os conceitos distorcidos que as pessoas carregam como armas, prontas para atirar no primeiro que passar pela frente. Então, a ordem e os bons costumes valem mais do que o respeito pela vida e pela integridade física e moral dos seres humanos? Ser bem educado vale mais do que ser uma pessoa boa? Eu não entendo como as pessoas pensam que são melhores que as outras e julgam severamente, baseadas em valores tirados de uma “educação” cheia de hipocrisia e injustiças. Com certeza, todo mundo conhece aquela figura típica que vai à missa todos os domingos, considera-se mais próximo de Deus do que qualquer outro ser humano, mas é o primeiro a humilhar e julgar as pessoas, como se elas não fossem dignas de respeito. Vivem em cima de um pedestal, julgando comportamentos e atitudes que têm mais a ver com a escolha pessoal de cada um do que com o caráter. Se um bêbado entra na igreja, é fuzilado com o olhar, por quase todos aqueles que se consideram cristãos; se um menino pobre passa do lado do carro, as janelas são fechadas imediatamente; se uma prostituta é espancada na rua, tudo bem! Ela é prostituta. Valorizam-se mais a organização, a moral, os bons costumes, um comportamento sexual reprimido, a pontualidade, o poder econômico, o diploma, a aparência e a posição social do que a solidariedade, a bondade, a generosidade, a alegria, a capacidade de perdoar, de ajudar, de compreender. Não estou dizendo que os primeiros valores não sejam importantes, mas estão na ordem errada. Não são prioridades! Não devem ser! Eu não quero saber se o meu amigo é gay, com quantos homens ele dorme ou de que cor é a sua pele. Sem demagogia! Eu quero saber se ele vai estar do meu lado quando eu precisar; se ele é capaz de guardar um segredo, de me dar um bom conselho, de ser sincero. Eu não ligo se a minha amiga é “piriguete”, virgem ou lésbica. Eu quero saber se conseguimos nos apoiar, nos perdoar, sorrir juntas, nos ajudar. Eu não me importo com a religião de ninguém, se a pessoa tem dinheiro, se é negra, branca, amarela; não quero saber se é médico, professor, gari; nem se gosta de jazz ou funk. Não me importo mesmo! Eu quero um papo agradável, pessoas legais, sorrisos e palavras sinceras, mão amiga! Eu quero espontaneidade, confiança, caráter. Conheço pessoas que nunca vão à Igreja, mas sabem verdadeiramente o que é ser solidário; pessoas que são um pouco atrapalhadas, distraídas, às vezes até grosseiras, mas que são as primeiras a oferecer ajuda a quem precisa, que não deixam ninguém na mão, que amam de verdade. Conheço pessoas que falam muita bobagem, que contam piadas sobre tudo, mas que não são capazes de ferir um inseto, muito menos de negar um copo de água a quem tem sede. Tudo bem ter uma religião, ser responsável e até certinho. Mas não está certo colocar isso em primeiro lugar, antes de valores muito mais importantes. Todos os pais deveriam ensinar aos filhos, antes de qualquer coisa, a serem pessoas boas, a respeitarem as outras sem julgamentos e preconceitos. E diante de um mundo maravilhoso, mas ainda cheio de desigualdades, em que algumas pessoas não têm o que comer neste exato momento, temos que escutar absurdos de um deputado que não deve ter noção das bobagens que saem da sua boca. Qualquer pessoa que não entende nada de política ou história sabe o quanto a ditadura militar atrasou a cultura e a educação do país, destruiu a vida de pessoas que lutavam pela justiça e de pessoas que nem sabiam o que se passava. Bom, mas como todo mundo tem o direito de falar, até as coisas mais absurdas, deixo aqui a minha humilde opinião.

2 comentários:

  1. Cara!
    Excelente, concordo com você em número, grau, classe, marca, modelo, cor, ano de fabricação...
    Solicito licença para inserir um exemplo em seu contexto. Que de forma sutil, em minha modesta opinião, é um grande divisor de águas. Criei até uma definição sintomática para este divisor.
    Estou me referindo a “síndrome da pseudo-superioridade dos possuidores (leia-se portadores) de curso acadêmico”. Não me refiro a totalidade dos indivíduos que tiveram a oportunidade de cursar uma universidade, e conclui-la, mas uma representativa parcela.
    Não vou delongar-me com um monte de exemplos bizarros que assistimos a todo instante. Contento-me em citar somente a aplicabilidade das leis, para um doutor, e um pé-rapado.

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  2. Por favor, me desculpe, escrevi com muito entusiasmo. Mas sei que saberá relacionar, e talvez encaixar, meu comentário em algumas de suas abordagens.

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